sexta-feira, 27 de julho de 2012

PARALELOS OLÍMPICOS


A nostalgia do discurso de Nuzman e o precipício

Por Lucio de Castro

Faltavam dois dias para o fim dos Jogos Olímpicos de Pequim. Suficiente para definir o tamanho do Brasil em Olimpíadas. Mais uma vez a desproporção entre o dinheiro disponível para o esporte olímpico verde e amarelo e resultados se desenhava enorme. (Dinheiro estatal em sua maior porcentagem e abundante desde 2001 com a lei Agnelo/Piva, com estimativa de R$ 145 milhões em 2012. A maior parte gasta no custeio de viagens de intercâmbio para atletas em competições. Leia-se passagens compradas na agência...você sabe...).

Salvo evoluções pontuais aqui e acolá para confirmar a regra ou histórias de heroísmos isolados, um atestado de fracasso no projeto de transformar o Brasil em potência olímpica. 

Aqui abro um breve parêntesis: em 2003, a convite de José Trajano, trabalhando ainda no jornal O Globo, participei de um Bola da Vez, na ESPN, com Carlos Arthur Nuzman. Minha primeira pergunta foi sobre uma promessa dele ao assumir o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) em 1996, quando garantia que em 8 anos seriamos uma potência olímpica. Perguntei o óbvio: oito anos depois, já somos uma potência olímpica, a promessa está cumprida? Não me lembro a resposta exata, mas tenho visto que o prazo agora é 2020.

Voltando no tempo para 2008 e no espaço para Pequim, lembro-me de um esbaforido proxeneta passando no corredor do estúdio em que eu estava e dando o recado para todos ali: era preciso bater no ponto do despreparo psicológico dos nossos atletas. O povo brasileiro tinha problemas na hora de decidir. Liguei os fios. Tinha lido algo sobre um pronunciamento de Nuzman exatamente igual naquela tarde. Defendia que seria preciso repensar a questão da preparação psicológica. Que todas as condições tinham sido dadas para a preparação, mas na hora de decidir os brasileiros falhavam. Repetindo sempre que o modelo de atleta a ser seguido é Robert Scheidt. Merecida lembrança, mas por que não Ademar Ferreira, Joaquim Cruz ou Romário, o favelado do Jacarezinho, frio como o aço na hora da decisão?

Faltavam poucos minutos para entrar no ar. Fiquei ali ligando os fios, conectando o aconselhamento de opiniões do proxeneta com o discurso de Nuzman naquela tarde. Estava claro. Existia um discurso 
pensado e construído para justificar a desporporção absurda entre os resultados do Brasil e o dinheiro investido. E o culpado tinha nome. Como o comissário corrupto de Casablanca, a ordem era prender os suspeitos de sempre: o povo brasileiro, o Zé Povinho, para eles a sub-raça, os incapazes psicologicamente.

Lembro como se fosse hoje que entrei no programa com um nó no estômago. Uma estratégia cínica demais. Fiz a única coisa que me cabia naquele momento: falei sobre a estratégia cínica e mentirosa que estava sendo montada. Botar a culpa de mais um ciclo olímpico abaixo do dinheiro existente na fragilidade e falta de estrutura dos mestiços, os impuros vindos dos negros e índios. Os Scheidts e afins, com sangue sem mistura, estavam a salvo da fraqueza juvenil nossa na hora de decidir. Falei que aquilo era cínico e não era aceitável. Ao fim daquela noite, ainda que com o embrulho travando até a garganta, dormi a noite do Oriente em plenitude. Não estou certo de que o proxeneta apto a repetir a voz do dono possa ter feito o mesmo.

Quatro anos depois, me assusta ver que o filme se repete. O discurso está pronto. Prudentemente posto em prática antes do apito soar na charmosa Londres. Nuzman tem passado sempre pela questão da “necessidade de maior preparação psicológica para nossos atletas”. E repetido sempre que “todas as condições foram dadas”. No cínico argumento que omite a vida escolar dos nossos atletas. A história de cada um antes de se tornar, sempre por esforço próprio, em atleta de alto nível. Omite que o esporte aqui ainda está longe de ser prática sistemática desde o mais tenro banco escolar. Omite que o esporte deve ser pensado como instrumento e promoção de saúde e educação, prática massiva desde os primeiros passos escolares. Sem o qual jamais seremos a tal prometida potência olímpica. Preparem-se. Em poucos dias provavelmente o tema vai voltar. Na equação que não se explica e traduz algo de muito errado, quando o volume de dinheiro aumenta e o Brasil não evolui na mesma proporção enquanto país olímpico, o resto é o discurso cínico de botar o peso no ombro da mestiçada.

Como farsa, como a história sempre se repete, bem sabemos. O discurso não é novo. Muito pelo contrário. Essa gente miscigenada e mestiça é incompatível com o êxito desde sempre na cabeça de alguns. Fracos mentalmente. Incapazes. O final do século XIX e início do XX talvez tenha sido o período mais explícito desse pensamento. Silvio Romero e outros defendiam com todas as letras o “clareamento” do nosso povo para que pudéssemos, a longo prazo, já livres dos traços negróides, sermos equivalentes aos então superiores. Modelos do que pensavam como sociedade para o Brasil. Como vemos, muitos tem nostalgia desse discurso. 

Meu bom amigo e grande historiador Luiz Antônio Simas costuma repetir em suas brilhantes aulas e palestras que “imigração aqui foi coisa de branco. Negro só podia chegar aqui de navio negreiro”. Por todas essas convicções acima citadas. Que perduram e são muletas perfeitas para justificar o fracasso e as incompetências. 

Contem os dias. O discurso está pronto. Em poucos dias veremos o debate sobre “a fraqueza de brasileiros na hora de decidir”. Tendo como maior arauto, Carlos Arthur Nuzman, seguido pelos proxenetas sempre aptos a repetir a voz do dono.

Ele, Carlos Arthur Nuzman, que em recente perfil na Revista Piauí, foi categórico ao responder a seguinte pergunta:

“Com quem o senhor pularia de um precipício de olhos fechados?”

Resposta: “O Havelange certamente é um deles”.

Bom, Havelange já foi pulou do precipício. Ou melhor, foi pulado com uma forcinha da justiça. Entregue aos crocodilos, para desespero de tantos proxenetas, envolto na confirmação de corrupção, despencado morro abaixo.

Conforme o prometido, vai encarar solidariamente o precipício, Nuzman? Ou quem sabe, assim como o amigo, aguardar alguma forcinha?


Do ESPN.com.br
Lúcio é carioca, formado em História e Jornalismo. Conquistou os principais prêmios de jornalismo: Embratel (2003 e 2006), TV Globo (2005,2006 e 2009) Anamatra Direitos Humanos 2009, Prêmio Direitos Humanos MJDH/OAB 2008 e 2010, Ibero-Americano (UNICEF-EFE) Fundación Nuevo Periodismo (dirigida por Gabriel Garcia Márquez) e Vladimir Herzog (2011)




COB faz bom planejamento e brasileiros não têm desculpas se falharem nos Jogos
Por Roberto Shinyashiki
Sexta-feira começam os Jogos Olímpicos. Na linguagem do esporte, agora quem pode mais, chora menos. Todo mundo já treinou o que tinha de treinar, estudou os adversários, fez a lição de casa. Agora é ter mente forte para enfrentar a pressão, que é muito grande.
Um dos aspectos mais importantes para atingir o máximo é assumir a responsabilidade por seu resultado. Se vencer, comemorar muito. Se perder, pegar para si a responsabilidade. Atleta que perde o controle emocional nestes dias que antecedem a competição começa a ficar irritado com tudo. É o calor que não deixa dormir, a comida que não tem feijão, o treinador que não avisou o horário do treino.
A mesma coisa pode acontecer com o treinador que perde o controle mental. Começa a ver defeitos no atleta, lembrar problemas do passado, falar que o atleta não escuta suas orientações. Tudo para ter o que dizer se algo der errado. Ou seja, no inconsciente, a derrota vai ficando mais perto do que a vitória.
Por tudo isso, não gostaria de ver reclamações durante as coletivas, pois atleta e treinador têm que ter a coragem de assumir a responsabilidade por sua performance na hora da competição. Temos que deixar de lado essa mania de colocar a culpa por nossos fracassos nos outros.
Alguns atletas precisam parar com a mania de se colocar como vítima do destino, pois esta posição não constrói uma carreira de sucesso. O passado não pode decidir o futuro de ninguém.
O trabalho desenvolvido por Marcus Vinicius Freire, superintendente executivo do COB, e sua equipe formada por executivos do mercado e medalhistas olímpicos, merece nosso aplauso. Fizeram um trabalho sensacional e proporcionaram o que os treinadores pediram para que seus atletas tenham sucesso em Londres.
O suporte à preparação está fantástico. Maurren Maggi quis se preparar em Madri, como faz todos os anos? Organizaram tudo o que ela precisaria em Madri. O pessoal do judô quis ficar fora da badalação? Montaram para eles uma estrutura em Shefield, a 200 km de Londres.
Os atletas quiseram ficar em Londres, mas sem a badalação da Vila Olímpica? Montaram para eles um centro de treinamento no Crystal Palace. A equipe de futebol quis cuidar da sua estrutura? Deixaram que eles tivessem total liberdade.
O vôlei de praia quis treinar no Crystal Palace? Montaram uma quadra com a mesma areia da quadra oficial, com o mesmo posicionamento da quadra, para não ter surpresas com relação ao sol. O pessoal da natação quis treinar com os blocos oficiais? Compraram os blocos e deixaram a piscina com as mesmas condições dos Jogos.
Tem atleta que não se alimenta direito porque estranha a comida? Levaram a chefe Roberta Sudbrack para fazer a comida brasileira, com o nosso tempero. Ainda levaram uma equipe de ciência do esporte, uma das melhores do mundo, com todas as especialidades que se possa imaginar. Até o quiropata Plínio Barreto, que vai para sua quarta Olimpíada consecutiva, foi integrado à delegação.
Cada detalhe foi cuidado com profissionalismo, para que atletas e treinadores só se preocupem em treinar e fazer aquilo que se comprometeram a realizar. Agora não tem choro nem vela. É olhar para a meta e fazer o que foi treinado.
Neste momento, não há futuro ou passado. É fazer acontecer no presente olímpico, sem medo de ser feliz. E, principalmente, ter a coragem de assumir seus resultados. Enquanto os campeões decidem, planejam e realizam, os perdedores reclamam e dão desculpas.
PS: Chego a Londres nesta quinta para estar junto dos meus atletas do EC Pinheiros. Adrenalina pura!

do uol.com.br 
Roberto Schyniashiki é 
Psiquiatra com pós-graduação em administração de empresas. É autor de vários best-sellers e já vendeu mais de 6 milhões de livros

NOTA DO BLOG: Ao observar os dois posts, me peguei na análise de dois posicionamentos distintos, e ao ver a posição “sistemal” do popular Roberto Shinyashiki me peguei pensando no que o “sitema” provoca nos brasileiros....A sensação de que tudo caminha bem! E você o que achou da comparação? 


Ps: Foi uma dica do internauta FPFERA do Uol.
                     

5 comentários:

  1. Lina , eu li na Veja especial dessa semana que os Quenianos treinam em estradas de terra batida. Não tem nem 10% dos que os atletas brasileiros ganham.

    Usain Bolt treina na Jamaica com treinador jamaicano numa pista bem semelhante a do Ibirapuera.

    Países como Belaurus, Qûenia, Romênia e Etiópia que tem um orçamento pífio em relaçao a dinheirama dada ao COB ficaram na frente do Brasil no quadro de medalhas.

    Se as Olimpíadas são um reflexo da econômia do mundo algo está errado. O Brasil não está sempre entre as 10? Nos jogos ficou abaixo disso.

    Enquanto a nossa educação for um lixo, sabe quando o Brasil vai ser uma potência olímpica?
    Nunca!

    Dar dinheiro público para entidades corruptas não vai resolver o problema. O lance é estrutural. O cara tem que ser treinado desde criança, na escola.

    Treinar, treinar e treinar.

    Praticar, praticar e praticar.

    Esquecer essa cultura do menino que quer ser jogador de futebol pra sustentar a família. Avisem que atletas do basquete, volei, atletismo e até nado sincronizado ganham muito bem também.

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    1. Cara eu entendo sua postura, vc tem razão. Mas acho que a solução seria criar a politrica esportiva no ensino brasileiro. O dinheiro naum entraria para entidades mas sim para um fundo governamental, tal pratica é utilizada pelo governo americano. O esporte tem de ser usado como meio de formação socio-educacional....Putz que papo cabeça! kkkkkkkkk

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    2. Lina...??????!!!!???
      WTF?????
      Kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  2. Lina? Putzz, que merda. Foi mal aí cara. Deve ser a porra da minha gripe. Rsss. Mil Desculpas.

    O que eu falei vai de encontro a sua idéia de política esportiva que está grudado na educação. Agora o foda é que em colégios estaduais Educação Física nem repete de ano. Aí fica complicado.

    Brasil em quarto no quafro geral de medalhas.


    Agora vai. Uhauahauha.


    Falou Guina!

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